Dólar volta a cair e caminha para maior queda trimestral desde 2009

A queda da taxa de câmbio voltava a refletir nesta quinta-feira (31) o apetite do mercado pelo Brasil. Às 11h20, o dólar caía 0,96%, a R$ 4,7390. Após fechar em alta na véspera, a moeda americana se aproximava da menor cotação desde março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, e caminhava para fechar o dia com a maior queda trimestral desde junho de 2009.

Assim como ocorreu na véspera, o dólar perde valor nesta quinta contra quase todas as moedas de países emergentes. Esse movimento demonstra o interesse de investidores internacionais em faturar com os elevados juros que esses países estão pagando enquanto os títulos do Tesouro de nações economicamente desenvolvidas, principalmente os dos Estados Unidos, oferecem retorno negativo em relação à inflação.

O real oferece nesta quinta o quarto melhor retorno de juros, atrás apenas do peso argentino, do rublo russo e da lira turca, nessa ordem. Atualmente a taxa básica de juros brasileira (Selic) é de 11,75% ao ano, com expectativa de chegar a 12,75%, frente a uma inflação na casa dos 7%. Ou seja, os juros reais estão perto de 6% ao ano.

O apetite de investidores estrangeiros pelos juros pagos pela renda fixa de países emergentes nesta sessão pode ter respaldo no plano americano para frear a inflação global com um despejo de petróleo no mercado. Como subir juros é a resposta mais elementar dos bancos centrais à alta de preços, um ataque à principal causa da inflação reduz expectativas sobre aumentos acima do esperado das taxas de crédito.

PETROBRAS E VALE SUSTENTAM IBOVESPA

Na Bolsa de Valores do Brasil, a alta do setor de commodities sustentava ligeiro avanço de 0,20% do Ibovespa, a 120.500 pontos.

As ações mais negociadas da Petrobras e da PetroRio subiam 0,30% e 0,68%, nessa ordem. Os papéis das duas petrolíferas brasileiras estavam entre os cinco mais movimentos, apesar da queda do petróleo. A mineradora Vale também aparecia nessa lista, com um ganho de 0,58%.

PETRÓLEO CAI COM PLANO DE BIDEN PARA LIBERAR RESERVAS DOS EUA

A administração de Joe Biden está avaliando um plano para liberar aproximadamente um milhão de barris de petróleo por dia das reservas estratégicas dos Estados Unidos, disseram fontes ligadas à gestão do presidente americano à agência de notícias Bloomberg.

Até 180 milhões de barris poderiam ser liberados durante alguns meses. O plano é usar as reservas para combater a inflação dos combustíveis, que foi acelerada pela forte valorização da matéria-prima a partir do início da invasão da Rússia à Ucrânia.

Os americanos também planejam liderar outros países na liberação das suas reservas estratégicas, o que ampliaria de forma maciça a oferta e pressionaria a queda dos preços.

Com isso, os preços do petróleo mergulhavam 4,41% na manhã desta quinta-feira (31). O barril Brent era negociado a US$ 108,45 (R$ 515,03).

A valorização da commodity no último mês, atingindo as cotações máximas desde 2008, é um dos principais sintomas sobre a visão do mercado de que as sanções à Rússia, um dos principais exportadores de petróleo e gás natural, podem reduzir a oferta por um longo período, dando fôlego para a alta da inflação global.

A Alemanha ativou seu plano de emergência para garantir o abastecimento de gás diante das ameaças de suspensão do fornecimento russo.

Nesta quarta-feira (30), o índice de referência da Bolsa de Valores conseguiu sustentar ligeira alta de 0,20%, a 120.259 pontos, apoiado principalmente no setor de commodities. Com isso, o Ibovespa manteve o patamar de 120 mil pontos alcançado na véspera.

O dólar, porém, fechou em alta de 0,58%, cotado a ?R$ 4,7850. A desvalorização da moeda brasileira foi na contramão dos ganhos apresentados pelas principais moedas de países desenvolvidos e de emergentes frente à divisa americana.

Participantes do mercado disseram à agência Reuters que a alta do dólar na última sessão está principalmente relacionada à aproximação do último dia do mês e do primeiro trimestre, quando o Banco Central calcula a Ptax. Trata-se de uma taxa de câmbio que serve de referência para liquidação de derivativos.

No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, e, nesta quarta-feira, os comprados em dólar –que apostam na valorização da moeda americana– prevaleceram.

O economista Igor Lucena também atribuiu a alta do dólar nesta quarta a um movimento momentâneo de investidores estrangeiros rumo a ativos ligados à moeda americana, que oferecem maior segurança em períodos de aumento dos riscos globais, como é o caso dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Com a continuidade da guerra pressionando a inflação, o potencial de retorno desses papéis cresce devido à necessidade de elevação dos juros para a contenção da alta dos preços.

“Apesar de uma tendência de baixa [do dólar frente ao real] desde o início do ano, em alguns momentos, temos esses movimentos de subida. Isso ocorre quando, por exemplo, investidores percebem que a guerra não vai acabar tão cedo e, com isso, fogem para papéis ligados à inflação e a moedas”, comentou.

Um dia após negociações entre representantes de Rússia e Ucrânia criarem expectativas sobre uma trégua na guerra devido a alguns avanços em negociações realizadas na terça-feira (29), a esperança do mercado sobre a redução dos riscos econômicos gerados pelo conflito desvaneceu.

Apesar das promessas de “redução drástica” da atividade militar russa em Kiev e Tchernihiv, autoridades ucranianas relataram ataques nos arredores das duas cidades e em outros pontos do país. Bolsas da Europa e dos Estados Unidos fecharam em baixa.

Em Nova York, o índice S&P 500, referência para as ações americanas, caiu 0,63%. Os indicadores Dow Jones e Nasdaq perderam 0,19% e 1,21%, respectivamente.

Na Europa, o indicador que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro perdeu 1,08%. As Bolsas de Paris e Frankfurt caíram 0,74% e 1,45%, nessa ordem. Londres subiu 0,55%.

“Nós estamos céticos quanto à esperança”, disse Lisa Shalett, diretora de investimentos do Morgan Stanley, para a rede de televisão Bloomberg, após Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ter afirmado que ainda falta muito trabalho antes de um acordo com a Ucrânia, reforçando as dificuldades para alcançar o cessar-fogo.

Apesar dos sinais de recuperação dos últimos dias do mercado americano, revelando o desejo de investidores de “comprar na baixa” após um processo de correção das altas de 2021, o risco para os investimentos é uma realidade diante de um problema geopolítico, segundo Shalett. (Bahia Noticias

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.