Nova vitória sobre Bolsonaro não garante vida fácil a Lula

Não foi uma goleada como a de Arthur Lira, mas, depois de uma certa tensão, Rodrigo Pacheco conseguiu uma vitória ampla sobre o bolsonarista Rogério Marinho.

E da mesma forma como Jair Bolsonaro, direto de seu exílio autoimposto, tentou vender a competitividade de Marinho como prova de sua força, há que aceitar a volta da roda da fortuna: com seu ex-ministro, o bolsonarismo colhe uma resposta em alto e bom som, e em voto impresso e auditável, contra a radicalização política fomentada por ele e que resultou no 8 de Janeiro.

O risco de que houvesse um enclave bolsonarista numa Praça dos Três Poderes ainda não totalmente recuperada da barbárie fez com que até a sempre discreta Rosa Weber entoasse, na manhã da reabertura dos trabalhos judiciários e legislativos, um potente libelo em defesa da democracia.

Suas palavras se fizeram ouvir na Casa dos tapetes azuis, os mesmos que foram usados de escorregador pela turba ensandecida que achou que tomaria o poder à força, e ajudou, juntamente com instrumentos menos republicanos, a conter uma crescente rebelião sobre a forma como Pacheco exerce o poder.

Os 49 votos que recebem, bem aquém das projeções iniciais, mostram que ao presidente do Senado não bastará encabeçar a agenda de defesa do estado democrático, com a qual se apresentou, mas terá de ser também ele mais transparente na distribuição de espaços e benesses.

E o governo, que fez vista grossa para a hegemonia de Lira e acabou abraçando Pacheco como se fosse aliado de primeira hora de Lula, o que pode esperar dos próximos dois anos na relação com o parlamento? Não está com a vida ganha, não.

No dia seguinte a ter conseguido quase a unanimidade na Câmara, Lira começará a ser cobrado por forças antagônicas a respeito da direção na qual deve conduzir a pauta. Lula, Marina Silva e os demais ministros não devem se iludir de que será fácil, com ele, emplacar as pautas ambientais e de defesa dos povos indígenas. A bancada ruralista é sua avalista de longa data.

Da mesma maneira, o avanço dos pacotes econômicos de Fernando Haddad, tanto o que foi anunciado no primeiro momento quanto o que vai conter reforma tributária e novo marco fiscal, exigirá uma difícil negociação com bancadas que podem até estar representadas com ministérios, mas não se sentem parte integrante da base aliada na Casa.

Outro fator a ser observado é como será o comportamento da extrema-direita nas duas Casas. Dependerá de habilidade dos presidentes, mas também dos líderes do governo, evitar que bate-bocas, pautas desconectadas da realidade do país e voltadas apenas para manter radicalizada a sociedade e conclamação a mobilização violenta permanente dos órfãos de Bolsonaro não paralisem os trabalhos no Congresso. Ou seja: passada a festa, o trabalho pesado ainda nem começou.

Fonte O Globo

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