Angústia sem fim: 10 pessoas desaparecem por dia na Bahia

De um dia para o outro, o gosto da comida preferida não é saboreado do mesmo jeito. Um cômodo da casa acumula poeira porque os moradores são incapazes de suportar o peso das lembranças trazidas por ele. Se alguém bate na porta, o coração se enche de esperança. Esse é um pequeno retrato do cotidiano de quem procura um familiar ou amigo. Só neste ano, 10 pessoas desapareceram por dia na Bahia.

Homens correspondem a 63% dos desaparecidos no estado nos primeiros cinco meses deste ano. São 978, enquanto o número de mulheres desaparecidas é de 345. Os dados fazem parte Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ainda de acordo com o levantamento, a maior parte (73%) dos desaparecidos tem 18 anos ou mais. São 1.139 pessoas nessa faixa etária.

A Bahia é o sétimo estado com mais registros de desaparecidos este ano, segundo o Sinesp. São Paulo ocupa a primeira posição, com 6.410 pessoas desaparecidas, seguido do Rio Grande do Sul (3.486) e Santa Catarina (3.402). 

Uma pessoa é considerada desaparecida quando não é localizada nos lugares que costuma frequentar e nem responde às tentativas de contato. Nesses casos, não é preciso esperar 24 horas para registrar um boletim de ocorrência, como explica a delegada Ana Cristina de Carvalho, titular da Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), em Salvador. 

“No caso de desaparecimento de uma pessoa, não é preciso esperar prazo algum para que seja feito boletim de ocorrência. Em Salvador, o registro deve ser feito na DPP e, nas demais cidades, em qualquer unidade da Polícia Civil”, diz a delegada. O desparecimento ainda pode ser comunicado através da Delegacia Virtual (acesse aqui). 

“É recomendado que, mesmo que o registro seja feito na Delegacia Virtual, o comunicante procure a delegacia [física] o mais rápido possível para dar mais detalhes do desaparecimento. Nós fazemos um procedimento em que divulgamos a foto da pessoa desparecida, com a autorização do comunicante”, explica Ana Cristina de Carvalho. A Delegacia de Proteção à Pessoa, em Salvador, fica localizada na Av. Dorival Caymmi, na Rua da Antiga EBDA. 

As buscas são de responsabilidade da PC, mas outros órgãos podem atuar na procura. “A Polícia Civil é o órgão responsável por receber o registro, realizar a investigação e promover a busca de pessoas desaparecidas. No entanto, outros órgãos podem ser acionados e, quando necessário, atuar em cooperação uma vez que são múltiplas as situações de desaparecimento e identificação” afirma Rogério Queiroz, promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAODH).

Nos últimos cinco anos, a Bahia registrou um aumento de 141% no número de pessoas desaparecidas. Entre janeiro e maio de 2020, 643 pessoas desapareceram. Nos cinco primeiros meses deste ano, já são 1.550. A Polícia Civil da Bahia justifica que uma mudança no sistema de coleta e exposição de dados, em 2021, é responsável pelo crescimento. 

Além do número de pessoas desaparecidas no estado ter aumentado nos últimos cinco anos, a localização de desaparecidos também cresceu. Porém, de forma mais tímida. Entre janeiro e maio de 2020, foram 237 pessoas localizadas na Bahia, segundo dados do Sinesp. Só neste ano, já foram 331 – um aumento de 40%. Mesmo assim, o número de desaparecidos ainda é quase cinco vezes maior do que o de encontrados. 

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