Médicos X Médicos

Hesitei em me posicionar sobre a questão da “importação” de médicos para atuarem no interior e quinhões periféricos do Brasil por achar tudo muito complexo: corporativismo da classe médica, aversão ao estrangeiro, crítica ao modo de condução da presidenta Dilma.

Mas a vaia a médicos cubanos me parece a gota d’água de uma questão que beira a xenofobia. Li uma manchete de jornal – “Os estrangeiros estão chegando” – que, numa citação ambígua, pode tratar os estrangeiros como alquimistas ou marcianos.

Antes de serem estrangeiros, estes cidadãos são médicos. Dispostos a enfrentar os problemas de dar assistência de saúde em lugares longínquos. China, Rússia, Índia vivem problemas semelhantes de saúde pública em locais distantes – são, como o Brasil, países continentais.

Aqui, ensaia-se uma medida paliativa – sui generis – e que, por isso mesmo, precisa ser testada. Não há medicamentos no interior? Os postos são sucateados? É preciso que haja pessoas nestes locais para fazer pedidos, encaminhamentos. Se não há médicos num posto de saúde de uma micro cidade longínqua, como pedir recurso público? Como articular parcerias com prefeituras e iniciativas privadas?

Morei em Cuba e presenciei o médico como um articulador social, uma figura que não está somente para “receitar remédio” mas, sobretudo, um profissional em contato com assistentes sociais, com ONGs, com entidades de classe, etc. Antes de tudo, o médico é um ser social, uma presença que pode sim transformar uma realidade. Desculpem a utopia, mas acredito na presença transformadora.

Creio também que nada suplanta o contato físico: o médico e o paciente. O estrangeiro e o nativo. O preto e o branco. O rico e o pobre. Juntos. Olho no olho. Uma imagem de cumplicidade, auxílio e compaixão.
 
*Texto extraído do Facebook do jornalista Celino Souza.

 

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