Desde a queda do muro que dividia Berlim ao meio, em 1989, barreira física, que simbolizava a divisão do planeta entre capitalistas, representado pelos Estados Unidos e comunistas, sob a tutela do regime soviético, na chamada guerra fria, a história tem nos mostrado que o diálogo é o principal fio condutor das conquistas do nosso tempo.
Passados 25 anos, e longe dos estigmas ideológicos que ceifaram milhares de vidas, embora tardiamente, só agora somos capazes de compreender porque as nações têm abandonado os seus velhos dogmas para facilitar a solução dos seus conflitos por meio de um debate civilizado sem as antigas mistificações.
Se estivermos mais atentos aos acontecimentos históricos das últimas três décadas, em várias partes do mundo, mas, notadamente no Brasil, constataremos que, muito por essas mudanças de paradigma, fatos na vida pública brasileira têm ocorrido e que merecem reflexão.
Lembremos a história de certo sindicalista chamado Luiz Inácio da Silva, o Lula, nos anos 70 (se a quase provecta memória não falha), provindo da cidade Caetés, Pernambuco, se estabelecendo no ABC, paulista, anos depois se transformando na mais importante liderança sindical brasileira, e não menos importante interlocutor entre o capital e trabalho, binômio que sempre foi responsável por grandes agitações nessas relações, desde a revolução industrial.
Estava nascendo no berço do sindicalismo brasileiro, a mais carismática liderança política da nova república, cuja iniciação se deu com sua eleição a deputado federal em 1986, para fazer parte da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição/Cidadã, de 1988. (Aqui me permita um registro histórico. Talvez eu tenha sido o único radialista no interior da Bahia a estar presente a esse evento, por ocasião de minha curta passagem pela Rádio Fascinação, ao lado do competente advogado Emerson Campos, que atuou como comentarista político).
Ao lado de outros militantes de esquerda, Lula viu concretizar muitos pontos de sua agenda na Constituição, como, a limitação do direito de propriedade, a soberania do voto aos 16 anos, a criação de um fundo de apoio à reforma agrária, dentre outras.
Não obstante à sua luta, proposta como jornada de 40 horas, a estatização do sistema financeiro e o rompimento diplomático com países que adotassem discriminação racional, não lograram êxito.
Experiente nas lutas que envolviam direitos dos trabalhadores, hábil negociador e admirado, até mesmo por segmentos do patronato, Lula, principal artífice da fundação do PT, agora se apresenta à nação como candidato à Presidência da República. Sem sucesso nas suas primeiras tentativas. Ele ainda estava preso aos velhos dogmas do sindicalismo mundial, influenciado pelas alas mais à esquerda do seu partido e da própria base sindical que lhe dava apoio.
Assim como o PC do B, recém saído da clandestinidade, o PT, notadamente Lula, à sua principal lideranças, inspirava medo aos monopolizadores do capital nacional. É nesse momento que entram em campo, os ideólogos do partido. Lula precisava dar um ar de contemporaneidade ao seu discurso, agora sem a temida barba que fazia conservadores da política brasileira tremerem nas bases, e ligá-lo aos regimes totalitários e a emblemática figura de Fidel Castro, xenofobia que se espraiou no seio dos movimentos mais ortodoxos da economia brasileira naquele momento, principal óbice que separava o PT de ascender um trabalhador ao Poder.
Mas para concretizar o seu sonho, o PT propõe à Lula, uma receita para romper de vez com o preconceito que alimentava o medo de setores reacionários, a final, além de sindicalista, era um retirante nordestino que se propunha a irromper com a lógica de que para ser presidente, primeiro precisava passar pela academia e falar vários idiomas, e se fosse da famosa Sorbonne (França), seria ainda melhor.
José Alencar, o maior empresário do ramo têxtil do País, foi à solução encontrada, como candidato a vice-presidente em sua chapa, era a receita que Lula precisava para mostrar ao mundo, que não pretendia o isolamento, e assegurar que com sua eleição o Brasil estaria cada vez mais inserido no contexto do mundo globalizado e na economia de mercado.
É o denominado mundo civilizado, cada vez mais distante de suas arcaicas ideologias, optando pela concretização do pragmatismo nas suas relações políticas, denominada por alguns de pragmatismo moderno, como elemento indispensável para se conseguir os avanços sociais e econômicos que as nações tanto precisam para diminuir às suas profundas diferenças.
Para dar um contorno final ao que aqui se alude, esse novo movimento fica mais evidente quando Lula, agora Presidente, convoca todas as bases partidárias de representação no Congresso, para garantir ao País à governabilidade, e que se repete com a Presidente Dilma. A proposta visa à convergência de ideais para a consecução de objetivos comuns. Nada de errado nisso, desde que essas teias de relações se dê dentro de uma perspectiva republicana, sem a promiscuidade que as desfigura.
Essa mesma lógica se repete nos estados. Na Bahia, seguindo à toada da Presidente Dilma, que busca reformular a sua base de apoio tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, o Governador Rui Costa, se articula para aumentar à sua bancada, no sentido de garantir um governo sem traumas até o final. Para ele, uma vez eleito, governa-se para todos, e é assim que deve ser.
Exemplo que pode ser seguidos nas instâncias municipais, desde que seja respeitado o espaço de cada partido que se propõe a formar uma coalizão para governar. O que é absolutamente normal em qualquer sistema democrático. È o velho pragmatismo inspirado no movimento filosófico do século XIX, adotado modernamente para explicar os fenômenos políticos no nosso tempo.
Juraci Nunes de Oliveira
É radialista, ex-presidente da Câmara de Vereadores de Itapetinga