Comprar iPhone nos EUA demanda 12 dias de trabalho com salário mínimo; no Brasil, 6 meses
Um comercial de lançamento do iPhone 13, exibido nos EUA, mostra um entregador de moto que usa o novo aparelho para trabalhar: ele prende o smartphone no guidão e sai fazendo entregas, enquanto o aparelho resiste à chuva, lama e quedas. Ao final do dia, ainda há um terço da carga da bateria, mostra a propaganda.
No Brasil, o vídeo causaria algum estranhamento, pois iPhones de última geração não costumam ser usados por entregadores, em parte por causa do alto preço.
No país, o iPhone 13 mais moderno custa a partir de R$ 6.599, equivalente a seis salários mínimos. Nos EUA, o mesmo modelo demanda US$ 699. No país, a remuneração mínima é de US$ 7,25 por hora. Assim, em jornadas de oito horas, seria preciso trabalhar cerca de 12 dias para comprar um aparelho novo. No Brasil, um trabalhador que ganha o salário mínimo teria de juntar a renda de seis meses para adquirir o modelo.
Para facilitar, o iPhone 13 nos EUA pode ser pago em parcelas mensais de US$ 29, com um cartão de crédito oferecido pela própria Apple, sem taxas nem juros. Além disso, descontos dados por operadoras de telefonia ajudam a tornar os aparelhos acessíveis. Assim, apesar de a empresa promover a imagem de que tem produtos sofisticados, seus aparelhos são acessíveis para uma ampla parcela dos americanos.
“A Apple é a marca mais popular e a mais cara ao mesmo tempo. Ela atrai consumidores mais ricos, na comparação com compradores de Android, mas os incentivos tornam os iPhones mais acessíveis nos EUA do que em outros países. Além disso, o preço de entrada é geralmente mais baixo se comparado ao de outros mercados pelo mundo”, diz Anthony Scarsella, da consultoria IDC.
Na última década, a Apple aumentou sua participação no mercado americano de celulares de cerca de 40% em 2012 para 50% agora, segundo dados da IDC, e a expectativa é que siga avançando. Em nível global, ela ocupa o terceiro lugar, com 14,1% de participação, atrás de Samsung (18,8%) e Xiaomi (16,9%).
Nos últimos anos, a Apple buscou expandir sua linha de celulares mais caros, o que reforça a imagem de que tem itens premium. Em 2019, lançou a linha Pro, com aparelhos que superam US$ 1.000 e trazem mais câmeras e maior resolução de tela. Teve boa resposta.
“As vendas da Apple nos EUA continuam a ter alta no tíquete médio, conforme os consumidores têm escolhido mais os modelos Pro em vez dos comuns nos últimos seis trimestres. E eles também estão buscando aparelhos com maior armazenamento, o que também aumenta o gasto”, aponta Scarsella.
O movimento de sofisticação veio após uma tentativa de se popularizar. Lançado em 2013, o iPhone 5C vinha com traseira feita de plástico e cores vibrantes, como azul e amarelo. Com preço a partir de US$ 99, foi uma tentativa de avançar no mercado de aparelhos mais baratos, mas teve recepção ruim do público e saiu de linha dois anos depois.
No Brasil, onde a fabricante tem cerca de 14% do mercado de smartphones, o alto valor ajuda a manter o status do produto. “Se baixar muito o preço, faz as pessoas acharem que não é Apple. O consumidor tem a crença de que se tem qualidade e status, será mais caro”, avalia Isabella Vasconcellos, professora de administração da ESPM.
Apesar da alta do dólar, o iPhone 13 foi lançado no Brasil com preço ligeiramente menor do que a versão anterior. A versão 12, em 2020, chegou por R$ 6.999, R$ 400 a mais do que o atual. Procurada, a Apple não detalhou como é composto o preço do aparelho no Brasil, que inclui taxas de importação e impostos locais.
A empresa criada por Steve Jobs também se beneficia do costume dos usuários com suas plataformas. O uso do iMessage, aplicativo de mensagens nativo da Apple, é bem mais comum nos EUA do que no Brasil, e aparelhos como iPads e MacBooks abrem mais possibilidades quando usados em conjunto, o que desestimula a migração para aparelhos com sistema Android.
Em um sinal de que a aura da Apple segue capaz de engajar consumidores, na tarde do dia 24 de setembro, quando o iPhone 13 chegou às lojas do país, havia uma fila de cerca de 40 pessoas na porta da loja da marca no centro de Washington, apesar de o produto também estar à venda pelo site, com o mesmo valor e frete grátis.
Fonte: BN