Como a queda do preço do petróleo pode afetar o Brasil?

O recuo acentuado no preço do barril do petróleo após uma queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia pode afetar negativamente o Brasil. O valor do barril de petróleo do tipo Brent, que já havia caído de 61 para 50 dólares desde janeiro, quando teve inícioo surto do novo coronavírus na China, abriu nesta segunda-feira (09) em 31 dólares. Foi imediato o efeito sobre as ações da Petrobras, que chegaram a cair mais de 20% pela manhã, e as consequências para o país podem ir além disso, a depender da duração do patamar mais baixo de preço.

balança comercial brasileira pode vir a ser impactada, segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Segundo ranking de 2018, o Brasil é o nono maior produtor de petróleo do mundo, em um mercado liderado por Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia. E a commodity tem um peso significativo na pauta de exportações brasileira, tendo representado 15% delas nos últimos 12 meses, atrás somente da soja e à frente do minério de ferro.

Além disso, diz Gonçalves, há a possibilidade de o preço menor afetar a atração de investimentos. “Pode haver um efeito de médio prazo no investimento no setor de óleo e gás, o que, para mim, é o maior risco, porque o país precisa de investimentos, e uma parte do investimento com o qual todo mundo conta para recuperar um pouco a economia está ligado a esse setor”, diz.

Um terceiro ponto a ser considerado é o impacto fiscal. Como o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é cobrado sobre o valor do produto ou serviço, quanto menor o preço, menor a arrecadação, principalmente para os estados. “Se você reduzir o preço [do petróleo] talvez não em 30%, mas em 10%, você corta a arrecadação em 10% e piora a situação fiscal de uma forma complicada”, aponta Gonçalves.

Além disso, o efeito sobre a Petrobras – estatal de economia mista, da qual o governo federal é o maior acionista, com 28,67% dos papéis – pode ter também impacto sobre o governo. De acordo com o analista de investimentos da Mirae Asset Pedro Galdi, embora o valor dos dividendos (distribuição de lucro aos acionistas) não seja alto em relação ao orçamento do governo federal, o impacto sobre eles é algo a se considerar.

“Como [a queda no preço do petróleo] reduz a margem de lucro, é claro que vai comprometer a geração de caixa e os dividendos”, afirma Galdi. No ano passado, o governo embolsou 1,3 bilhão de reais em dividendos da Petrobras.

A empresa, no entanto, tem uma vantagem competitiva entre os players globais, já que tem um custo de extração menor. O custo para extrair petróleo do pré-sal em 2019 era menor que em todas as outras categorias de extração – águas rasas, águas profundas e terra. “Mas tem muita empresa que não vai aguentar por ter um custo alto”, diz o analista.

A incerteza gerada pela queda do petróleo – não se sabe, por exemplo, quanto tempo vai durar esse patamar de preços e a queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia – também é um fator a ser considerado, já que atrapalha a atração de investimentos.

É fato, contudo, que a própria Arábia Saudita, que contribuiu para a queda nos preços ao anunciar o aumento da produção e a redução do preço do barril, tem menos fôlego para um conflito como esse, já que praticamente 100% de sua economia depende do petróleo, enquanto que para a Rússia, diz Gonçalves, o setor de óleo e gás representa cerca de um terço do PIB.

Por fim, entra em jogo a incerteza política sobre qual será a postura da Petrobras, ou seja, se vai reduzir o preço dos combustíveis e em quanto vai reduzir. Há cerca de três anos a empresa vem tentando se mostrar mais pró-mercado, com menos intervenção do governo. No ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro tentou segurar o preço dos combustíveis evitando que a empresa repassasse o reajuste da commodity, as ações da estatal caíram.

Bolsa brasileira chegou a interromper negociações

O mercado financeiro foi o primeiro a ser atingido pela queda no preço do petróleo. As bolsas globais abriram em forte queda nesta segunda-feira, e no Brasil não foi diferente. O evento somou-se ao caos provocado pelo coronavírus e derrubou o índice Bovespa, que recuou 10,2% em meia hora de pregão.

Com a queda brusca, as negociações na Bolsa de Valores do Brasil foram interrompidas por 30 minutos, com a ativação do chamado circuit breaker. O mecanismo é utilizado em situações atípicas de mercado – a última vez havia sido em 2017 – e é ativado em estágios. O primeiro movimento é quando o Ibovespa perde 10% do seu valor em relação ao valor de fechamento do dia anterior, e a negociação é interrompida por 30 trinta minutos.

Segundo Galdi, o comportamento do mercado deve repetir o que se viu durante o surto de Sars em 2003. “Há uma queda brusca e depois o mercado se recupera em uma velocidade impressionante”, diz.

As ações preferenciais da Petrobras chegaram a ser negociadas a 17 reais nesta segunda, menor preço desde agosto de 2018, após terem fechado em 22,83 reais na sexta-feira. As ações da estatal chegaram a despencar mais de 20%. A recomendação de Galdi para investidores é que aproveitem para comprar os papéis.

Fonte: Terra

 

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