Empresário usou filho de 3 anos como laranja e movimentou R$ 1,5 mi

A engenharia criminosa integrada por laranjas, empresas de fachada e uma intensa lavagem de dinheiro, sempre liderada pelo empresário Ronaldo de Oliveira (foto em destaque), incluiu até o filho dele, de apenas 3 anos à época dos crimes. A informação consta na investigação no âmbito da Operação Old West, deflagrada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) na manhã desta quarta-feira (20/12).

Levantamentos feitos pela investigação mostraram que a criança tinha uma conta-corrente em nome dela e supostamente movimentou, entre agosto e outubro de 2019, pouco mais de R$ 1,5 milhão.

As operações na conta em nome do menino incluíam recebimentos e envios de valores, em rápido trânsito, por meio de depósitos em dinheiro, transferências eletrônicas e pagamentos. Por se tratar de pessoa com menos de 18 anos, o nome da criança não será divulgado.

O montante milionário creditado em nome do caçula do empresário ocorreu por meio de 20 transferências eletrônicas da conta da empresa Oliveira Transporte e Turismo. Outra parte do dinheiro teve como origem depósitos feitos por Paulo Victor Viegas de Oliveira, também filho de Ronaldo.

Saques

A polícia também identificou sete saques em espécie feitos por Soraya Gomes da Cunha, companheira de Ronaldo, que somaram R$ 739 mil. O filho dele, atualmente com 8 anos, nasceu em 30 de junho de 2015, e a conta dele foi aberta em 26 de junho de 2018 — logo após a deflagração da Operação Trickster.

As apurações revelaram que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster — que identificou um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão em dinheiro público teriam sido desviados por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) —, o empresário desenvolveu um sistema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.

Para isso, o empresário apontado como “dono de Brazlândia” usou um supermercado que funcionava sob diferentes CNPJs e contas-poupança em nome de testas de ferro para lavar centenas de milhares de reais. O estabelecimento era de fachada, segundo a polícia, e tinha um dos filhos de Ronaldo de Oliveira como suposto proprietário.

Caminho do dinheiro

Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curvas” para driblar as autoridades.

O fluxo do dinheiro começa com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, segundo as investigações, mas os valores são imediatamente lançados nas contas-poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.

Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas-poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, tudo a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas delas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão, segundo a PCDF.

Foragido

Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade de Niquelândia (GO).

Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município de Mimoso (GO), onde Ronaldo de Oliveira teria um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o Distrito Federal.

Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada pelo empresário para circular pela região. Em seguida, ele foi abordado por uma equipes do GPT, que confirmou a existência do mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e por associação criminosa.

Pagamento de propina

Em abril de 2018, a polícia pediu a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya. A Justiça atendeu à solicitação após os investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. O gestor foi detido em 23 de março de 2018, em mais um desdobramento da Operação Trickster.

Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.

Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago como propina. À época, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy, com cerca de R$ 12 mil.

Fonte: Metrópoles 

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