Guerra na Ucrânia muda de estágio com novas armas e ataque hacker
A guerra na Ucrânia começou a mudar, do ponto de vista militar e de conflito assimétrico, neste sábado (26), terceiro dia do ataque iniciado pela Rússia.
No sentido mais clássico, Vladimir Putin começou a mover equipamento mais pesado na região nordeste do país, insinuando um grande assalto à cidade de Kharkiv, a maior da região.
Por meio de imagens gravadas por celular e da rede de TV CNN, dois desenvolvimentos ficaram claros. Primeiro, colunas de tanques, blindados, caminhões e obuseiros autopropulsados foram vistos entrando em uma grande coluna da região de Belgorod para os arredores de Kharkiv.
São equipamentos de sítio e ataque. Até aqui, o grosso dos bombardeios contra a cidade eram feitos com lançadores múltiplos de foguetes baseados em solo russo.
Mais preocupante, do ponto de vista de risco para a população civil, foi a imagem gravada em uma estrada de um sistema TOS-1. É uma arma de ataque brutal, que usa explosivos considerados a pior coisa antes de uma ogiva nuclear entre militares.
No caso, foguetes termobáricos, que usam o princípio de criar um grande vácuo, sugando todo o oxigênio a seu redor, e explodindo em uma bola de fogo muito mais duradoura e intensa do que bombas convencionais. É a mesma base da chamada Mãe de Todas as Bombas americana, e sua rival russa, o Pai de Todas as Bombas.
O TOS-1 foi desenvolvido nos anos 1970 e 1980 e utilizado na guerra do Afeganistão, versão ocupação soviética (1979-89). Se a Rússia pretende usar o armamento, não é boa notícia para quem estiver do outro lado.
Isso tudo se deu em torno de Kharkiv. Segundo o Pentágono vazou para repórteres americanos, a ofensiva montada lá parece mais poderosa do que a no entorno de Kiev, ainda que a conquista da capital e a capitulação do governo sejam objetivos primários.
Mas leva a dúvidas sobre o dia seguinte de uma eventual vitória russa nessa guerra, já que o Kremlin vem negando querer uma ocupação militar do vizinho, de resto uma proposição cara e desgastante. É mais fácil apoiar facções pró-Rússia na política do país ou simplesmente desmembrá-lo a gosto de Putin.
Naturalmente, os russos precisam vencer primeiro. A despeito da propaganda ocidental acerca da resistência ucraniana e o fato de que o avanço ao centro de Kiev ficou aparentemente restrito a forças de vanguarda, Moscou tem a mão mais pesada no conflito.
Não se sabe se ela será usada, e é aí que uma arma como o TOS-1 entra como fator desestabilizador. Enquanto isso, os poucos dados disponíveis, todos contraditórios, sugerem que os ucranianos seguraram o ímpeto de Putin em torno da capital, mas a ação russa não foi maciça. A Ucrânia precisa de armas que barrem blindados, mas também de sistemas antiaéreos que a Otan promete fornecer.
Por outro lado, a Rússia passou a receber ataques em uma frente em que muitos analistas se dizem preocupados com o poder de escalada: a segurança cibernética. Neste sábado, o grupo hacker Anonymous clamou para si a derrubada ou degradação de dez sites ligados ao governo russo, incluindo o do Kremlin.
Foram problemas menores, mas simbólicos por atingir um país considerado bastante avançado na arte da guerra cibernética.
Na sexta (25), o secretário-geral da Otan (aliança militar ocidental), o norueguês Jens Stoltenberg, disse que um ciberataque a algum de seus 30 membros pode configurar um caso de invocação do artigo 5º da carta fundadora do grupo. Ou seja, a defesa coletiva.
É uma fronteira muito fluida. Um repórter questionou Stoltenberg se uma apagão na Polônia, por exemplo, configuraria isso. E se a resposta seria militar ou cibernética, proporcional. Ele não respondeu.
A doutrina militar russa, por sua vez, considera que um ataque cibernético que traga ameaça a setores estratégicos do país, em um sentido existencial como no caso de usinas nucleares, pode ser respondido com o uso de armas atômicas inclusive.
Hipoteticamente, tudo isso deixa aberto um campo de interpretação muito grande, que apenas a noção de respostas militares equivalentes à agressão não cobre.
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