Juca Kfouri chama Bolsonaro de ‘genocida’ e critica ‘normalização’ da morte

O jornalista e escritor Juca Kfouri foi entrevistado hoje (30) por Mário Kertész e pela comentarista da Rádio Metrópole Malu Fontes, durante o Jornal da Metrópole, e comentou a crise política, econômica e sanitária vivida pelo país. Diante da pandemia de coronavírus, o Brasil contabiliza mais de 90 mil mortos em função da doença. Questionado sobre o atual panorama, Kfouri disse que jamais esperaria viver um momento como esse no país. Ele também comentou a gestão de Jair Bolsonaro na presidência da República e revelou temor por poder ser preso novamente em um eventual golpe militar.

“Crises econômicas nós temos experiências de passar por elas. Somos a geração que viveu inflação e tudo mais pela coisa galopante que você saía de casa para o supermercado e o preço mudava em cinco minutos. Uma crise de saúde pública dessa, somada a uma crise econômica com uma crítica política como atravessamos, realmente eu não imaginava. Na verdade, eu não imaginava passar pela minha cabeça o risco de ser preso por pensar diferentemente do governo, coisa que me aconteceu quando jovem sob uma ditadura”, disse o comunicador, que chamou Bolsonaro de “genocida”.

 
 

“De uns seis meses para cá, de alguma forma passou de novo a me assombrar como uma possibilidade. Verdade que hoje vejo essa possibilidade mais afastada porque, felizmente, a prisão de Queiroz deu uma cortadinha de asas no genocida que temos em Brasília. Mas houve um momento em que ele estava naquela investida agressiva na porta dos quartéis e certo respaldo dos bolsominions que eu temi por isso, que teríamos um golpe respaldado pelos militares que ele trouxe no governo e que de novo a gente pagasse por opiniões e preso por causa disso”, afirmou.

“Sempre disse que, diferentemente do período da ditadura quando fui preso e tinha medo de ser preso porque sabia que estava cometendo uma ilegalidade, não ilegitimidade por ser contra a ditadura, não respeitando aquelas regras, eu tinha medo. Tinha medo da tortura e uma série de coisas. Hoje, se eu vier a ser preso, longe de imaginar isso uma perspectiva agradável, medo deles eu não teria. Porque a superioridade moral é de tal ordem que eu não teria nenhum medo. Aos 70 anos, acho que apenas os ofenderia e não teria o temor que tenho aos 20”, acrescentou Juca.

O jornalista também comentou a onda de negacionismo no Brasil. De acordo com ele, parte do que é visto no país pode ser atribuído à responsabilidade do presidente Bolsonaro diante de falas que não atestam a real gravidade da pandemia. “Como é que você discute com quem acredita que a terra seja plana. Não dá. Já estamos normatizando isso também. O que me assusta no Brasil é isso. Já passamos de 90 mil mortos e devemos passar de 100 mil na segunda semana de agosto, ao que tudo indica. Parece que estamos anestesiados. As pessoas estão achando que isso é normal e que é assim mesmo. De alguma maneira esse discurso do ‘E daí?’, ‘Não sou coveiro’ e ‘A gente morre mesmo’ pegou, as pessoas parece que estão insensíveis a isso, parece que precisa ter alguém muito próximo para que as pessoas se toquem e não olhem”, disse Juca.

“SEMPRE DISSEMOS QUE SOMOS UM DOS PAÍSES MAIS VIOLENTOS, QUE MORREM 60 MIL PESSOAS POR TIRO OU DE ACIDENTE DE AUTOMÓVEL. JÁ SUPERAMOS ESSA MARCA. PARECE QUE NADA MEXE COM A BASE DESSE GENOCIDA. FICAM ALGUNS NA MÍDIA DISCUTINDO A TERMINOLOGIA SE PODE OU NÃO USAR A PALAVRA GENOCIDA PORQUE DESCONHECE O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM OS POVOS INDÍGENAS. O QUE É UM GENOCÍDIO SE NÃO ISSO? EU NUNCA ESPERAVA VOLTAR A VIVER ESSE CLIMA”

(Metro1)

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