Ao mesmo tempo em que devasta a floresta, causa insegurança alimentar e desestrutura a organização social das aldeias, o garimpo traz também o crime. “Junto com o garimpo vêm o álcool, as drogas, a prostituição, o abuso sexual de mulheres”, afirma Basta.
Isso sem falar na ponta do iceberg de problemas, explica o pesquisador, que é a contaminação por mercúrio. “Quando cai na água o mercúrio vai contaminar tudo, de algas e crustáceos aos peixes. Quando o homem come esse peixe vai se contaminar também. Uma grávida que consuma esse alimenta vai, por exemplo, passar o mercúrio para a criança, que já no período pré-natal fica exposta aos efeitos graves dessa substância’, afirma.
Polícia Federal abre investigação
Na terça-feira, 24, o advogado indígena Ricardo Weibe Tapeba, que assumiu neste mês a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, disse que mais de mil Yanomami estão precisando de atendimento emergencial nas aldeias. Um hospital de campanha foi instalado na comunidade Surucucu para intensificar o atendimento emergencial. Mas, segundo ele, essas primeiras ações são apenas para “enxugar gelo” e é preciso um reforço maior na ação emergencial.
Segundo juristas ouvidos pelo Estadão, a crise Yanomami pode ser enquadrada como genocídio. A Polícia Federal abriu investigação sobre o caso. Os juristas defendem que a investigação apure se houve ação direta ou omissão dos agentes públicos para privar os indígenas de assistência e atendimento ao ponto de levá-los à morte. Os potenciais responsáveis – pessoas físicas que podem ser garimpeiros, ex-ministros e até o ex-presidente da República – poderiam ser processados pela Justiça ou por um tribunal penal internacional.
Em mensagem na rede Telegram, Bolsonaro chamou a crise na saúde Yanomami de “farsa da esquerda” e disse que a saúde indígena foi uma das prioridades do seu governo, destacando a atuação na pandemia. Nos últimos quatro anos, o ex-presidente defendeu a flexibilização do garimpo em áreas indígenas.