Mulheres denunciam pastor por crimes sexuais em igreja de Goiânia

Ao menos quatro mulheres denunciaram o pastor Joaquim Gonçalves Silva, de 85 anos, por abuso e importunação sexual. Ao G1, as vítimas contaram que os casos aconteceram entre os anos de 2002 e 2021, durante atendimentos na Igreja Tabernáculo da Fé, em Goiânia. Os casos foram registrados na Polícia Civil.

A defesa do pastor nega as acusações e afirma que elas fazem parte de uma tentativa de retirar o religioso do comando da igreja. “É um barulho de uma família que busca derrubar o pastor, mas não vão conseguir, ou seja, não é verdadeiro”, afirmou o advogado Osemar Nazareno Ribeiro.

O G1 também entrou em contato com a Igreja Tabernáculo da Fé, instituição sob a responsabilidade do pastor e onde ocorreram os assédios, segundo as vítimas. As ligações, no entanto, não foram atendidas até a última atualização desta reportagem.

Segundo as mulheres, que preferiram não se identificar, os abusos aconteceram em momentos de fragilidade, quando elas foram pedir conselhos ao religioso. As vítimas afirmam ainda que, após terem sido abusadas, foram chantageadas a não contar para ninguém ou seriam “amaldiçoadas”.

No caso mais recente, uma adolescente de 17 anos relatou em um vídeo publicado nas redes sociais que, em de janeiro de 2021, o pastor chegou a beijá-la quando ela esteve em seu escritório pedindo ajuda sobre o seu casamento, que estava em crise.

“Fui pedir conselhos depois de ter problemas no meu relacionamento. Foi quando ele colocou a mão no meu corpo e me deu um beijo. Passou a mão pelos meus seios e desceu até embaixo, quando eu o interrompi. Eu fiquei em choque, nunca na vida eu esperei isso dele”, contou.

Vítima diz que o considerava como pai

Com medo dos julgamentos que poderia receber de membros da igreja, a adolescente disse que só teve coragem de denunciar os abusos que sofreu três meses depois do ocorrido, quando ficou sabendo que outras mulheres tinham passado pelo mesmo que ela.

“Não é uma coisa que eu me orgulho de falar, porque é horrível você considerar a pessoa como um pai, que era como eu o considerava, e a pessoa aproveitar de você em um momento de fragilidade para fazer uma coisa dessa”, afirmou.

Após ser encorajada a denunciar, a adolescente registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia, em 26 de março deste ano.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado e que testemunhas já começaram a ser ouvidas. Como o fato está relacionado a uma menor de idade, a corporação informou que não dará mais detalhes da investigação, por enquanto.

Outras vítimas

Pelo menos outros três casos foram registrados entre janeiro e abril deste ano na Polícia Civil, desta vez na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O mais recente deles teria ocorrido em 2018, contra uma mulher que, atualmente, tem 40 anos.

Outra vítima, de 37 anos, denuncia ter sido assediada em 2015. Ela afirma que o abuso aconteceu quando, assim como a adolescente, foi pedir ajuda ao religioso.

“Foi quando meu irmão morreu e eu terminei um relacionamento. Eu via nele a figura de um pai e, então, decidi pedir ajuda. Fui no escritório dele, estávamos só nós dois e, depois da conversa, ele me deu um abraço, me apertou muito, começou a beijar meu rosto e veio para beijar minha boca, quando eu virei”, afirmou.

Antes delas, a primeira denúncia na Polícia Civil foi registrada por uma mulher de 46 anos. Ela relata ter sido abusada por diversas vezes entre os anos de 2002 e 2006. Ao G1, ela contou que permaneceu em silêncio por todo esse tempo porque tinha medo de que ela ou sua família fossem prejudicadas.

“Eu fazia trabalhos voluntários na igreja e amava, porque aquela era minha missão. No começo, ele dizia que, se eu contasse para alguém, iria me tirar da igreja, do trabalho. Depois, quando contei para minha família, ele mandou um aviso, pelo meu irmão, que alguém iria machucar eu, meu marido e meu filho, caso eu o denunciasse”, contou.

Investigação

Sobre esses três últimos casos, a Polícia Civil informou que “não foi dado prosseguimento por impossibilidade jurídica”. A delegada Cássia Sertão explica que os casos prescreveram porque não foram registrados dentro do tempo hábil para abrir uma investigação.

No entanto, a delegada afirma que o relato dessas vítimas pode contribuir para a investigação do caso em apuração na DPCA.

“Elas registraram a ocorrência e foram avisadas de que, não havendo a representação criminal, não tinha como a polícia investigar os fatos (…). A fala dessas mulheres fortalece a fala da menor de idade, que não prescreveu”, afirmou a delegada.

Segundo as próprias vítimas, uma investigação foi aberta pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), por meio do promotor de Justiça Joel Pacífico de Vasconcelos, que apura as denúncias.

O G1 solicitou mais informações sobre as investigações ao MP-GO, mas o órgão apenas confirmou que investiga o caso, sem dar mais detalhes. (G1)

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