Senador pede ao STF investigação de empresários suspeitos de defender golpe
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ingressou com uma petição no Supremo Tribunal Federal pedindo a investigação de empresários bolsonaristas que teriam defendido, em um grupo no WhatsApp, um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, caso ele perca as eleições.
A petição solicita a tomada de depoimento dos envolvidos, a quebra dos sigilos, o bloqueio de contas e as necessárias prisões preventivas.
“Não passarão! Estamos peticionando ao STF, pedindo quebra de sigilo, bloqueio e se necessário prisão. A democracia não pode tolerar convivência com quem quer sabotá-la”, afirmou Randolfe, que é líder da oposição no Senado e integra a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.
A existência desse grupo de empresários e as trocas de mensagens foram noticiados pelo colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles.
BOLSONARO DIZ QUE NOTÍCIA SOBRE EMPRESÁRIOS GOLPISTAS É FALSA
Em São José dos Campos (SP), onde visita centro tecnológico, Bolsonaro chamou o post do portal de “fake news”.
“Que empresários? Qual é o nome deles? Chega de fake news. Qual jornalista [divulgou isso?] Toda semana quase vocês demitem um ministro meu citando fontes palacianas”, disse o presidente a jornalistas em evento em São José dos Campos.
“Guilherme Amado? Você tá de brincadeira. Esse cara é o fim do mundo. É uma fábrica de fake news. Ele acusou o Luciano Hang de dar golpe, é isso?”, questionava ele sem deixar o repórter explicar. “Mostra isso aí. Para de minhoca na cabeça.”
GRUPO DE MENSAGENS INCLUI LUCIANO HANG, DA HAVAN, QUE NEGA GOLPE
O grupo inclui contas atribuídas a empresários de diversas partes do país, como Luciano Hang, dono da Havan, dono da Havan, Meyer Nigri, fundador e presidente do conselho da Tecnisa, Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia, Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, e José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan.
Hang chegou a ter o seu indiciamento proposto no relatório final da CPI da Covid, por incitação ao crime
As mensagens mostram a defesa de instalação de ditadura e um golpe a favor de Bolsonaro, mas os participantes não indicam estarem articulando nesse sentido.
O dono da Havan confirmou à Folha que integra o grupo, mas disse que quase nunca se manifesta e em momento algum falou sobre os Poderes.
“Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história”, disse Hang à Folha. “Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso.”
Questionada sobre as manifestações do fundador no grupo de empresários, a assessoria da Tecnisa informou que a companhia “não fala em nome de Meyer Nigri” e que ele “não é porta-voz da empresa”.
A preocupação com investidas frequentes de grupos bolsonaristas contra a democracia levou entidades empresariais e da sociedade civil, políticos e cidadãos a endossarem cartas em defesa do Estado de Direito democrático no Brasil.
Em uma das mensagens, segundo o portal Metrópole, José Koury, dono do Barra World Shopping (RJ), teria afirmado preferir “golpe do que a volta do PT” e acrescentou que a instalação de uma ditadura não traria prejuízos econômicos, pois “com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo.
Outra mensagem divulgada e incluída na petição de Rodrigues ao STF partiu de Ivan Wrobel, da W3, que afirma que o desfile de 7 de setembro vai inibir iniciativas contra Bolsonaro. “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, publicou.
Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii, respondeu que o “7 de Setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está”.
Em outro momento, outro empresário afirmou que o “golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo”.
Ao Metrópole, alguns empresários se manifestaram negando que defendem um golpe de Estado ou que apoiam atos que sejam ilegítimos, ilegais ou violentos.
Na petição apresentada ao Supremo, no entanto, Randolfe Rodrigues argumenta que os fatos expostos “já são gravíssimos” e acrescenta que novas histórias ainda devem ser divulgadas envolvendo o grupo.
O senador acrescenta que o inquérito que investiga os ataques ao regime democrático seria o melhor instrumento para incluir a apuração referente aos empresários.
“O presente inquérito, que apura os ataques ao regime democrático, é o melhor instrumento para responder a essas indagações, sendo imperioso que o STF atue em defesa da Constituição Federal, do regime democrático e do sistema eleitoral”, afirma o texto da petição.
“Dessa forma, requer-se que sejam apurados os fatos noticiados […] com a imediata remessa ao Ministério Público e à Polícia Federal para a tomada de depoimento dos envolvidos, a quebra dos sigilos, o bloqueio de contas e as necessárias prisões preventivas”, conclui. (BN)